Se tudo lhe parece igual, olhe de novo
Se você quiser pintar uma parede, hoje poderá escolher entre 2 mil cores em um catálogo comum. Apenas em tons de amarelo, haverá mais de 50. É amarelo. Ou melhor, são amarelos.
O excesso de escolhas que temos hoje traz problemas já bem estudados e documentados: leva à ansiedade e por vezes nos paralisa. Mas, sinceramente, eu não troco isso por um passado limitado como uma caixa de lápis de 5 cores.
Da Vinci escreveu que são os detalhes que fazem a perfeição, e que a perfeição não é um detalhe. Não acho que exista nada perfeito no mundo (ok, algumas obras do Leonardo? Bem, ele seria o primeiro a discordar). Mas, conhecer e compreender os detalhes pode ser um dos caminhos para navegarmos no oceano de opções sem naufragarmos.
Em tipografia, por exemplo, o espaço ao redor das letras é tão importante quanto o desenho das letras em si. Enxergar os detalhes e o seu impacto exige treino e tempo. Lembro dos meus primeiros dias na Dalton Maag, sob orientação de Ron Carpenter (se você era criança nos anos 80, imagine um Sr. Miyagi, só que da tipografia e com uma cordialidade britânica). Ele apontava errinhos nos meus desenhos que pareciam invisíveis. Eu concordava com a cabeça escondendo minha ignorância e voltava para a mesa e me debruçava sobre aquelas formas por um longo tempo, e, com o tempo, as coisas começavam a fazer sentido. Aprendi que não desenhamos tipografia com a mão ou o mouse, mas com os olhos. É preciso apurar o olhar, enxergar o que parece não estar lá, pois os detalhes não são detalhes.
Quando meu filho tinha 4 anos e estávamos em uma loja escolhendo calças jeans (todas muito parecidas), ele apontou o dedo decidido para uma delas. “Por que essa filhote?”, perguntei. “Porque a etiqueta é menor”, ele respondeu. O menor detalhe, que decidiu tudo.