Um conselho aos jovens designers

Ao invés de uma reunião de briefing, um designer pede que o cliente preencha um formulário do Google. Um anúncio vende um template de apresentação de projetos com uma estrutura que dispensa falar com o cliente; basta enviar por email. Uma jovem numa empresa de inovação pergunta o que ela deve falar, enquanto o telefone fixo toca e ela não sabe como agir.

Calma, não vá embora, eu entendo, juro. Além de jovem eu também era tímido (ainda sou, pra ser sincero). Imagino como deve ser difícil crescer hoje, pois a comunicação por mensagens de texto privou muitos de exercitar a conversa em tempo real. Imagine ter que telefonar para a casa da pessoa que você gosta e, de surpresa, ter que conversar com o pai dela? Explicar quem é você e porquê está ligando. Uma prova de controle da ansiedade, improviso, persuasão, enfim, comunicação. Aliás, esta é a habilidade em comum mais procurada pelas empresas, segundo o LinkedIn¹. “Mas que papo chato desse velho!” É, eu juro que te entendo. Mas então, deixa eu trazer um exemplo mais interessante: uma pesquisa da Universidade de Stanford² acompanhou roteiristas de Hollywood por 5 anos e analisou as suas apresentações para tentar descobrir o que as bem sucedidas — aquelas em que os executivos compravam as ideias dos roteiristas — tinham em comum.

Ao contrário do que se imagina, as apresentações vencedoras não foram aquelas em que o roteirista explicava em detalhes, usando cada palavra escolhida com cuidado e ensaiada à exaustão, até concluir sua apresentação esperando os aplausos ao final; os roteiristas que tinham suas ideias aprovadas falavam menos e convidavam os executivos para colaborar durante apresentação, puxavam eles para a conversa. Conversa em tempo real. Eles adaptavam suas ideias incorporando o ponto de vista dos executivos, que se tornavam parte do processo e, não à toa, as aprovavam com maior frequência. Substitua ‘roteirista’ por ‘designer’.

Estamos velhos quando dizemos que esta geração, que chega, está perdida. Os Gregos já diziam isso há mais de 2.500 anos, então, está tudo certo. Talvez no futuro os designers não precisem conversar, serão mais eficazes com outra forma de comunicação entre si, mas até que a minha geração desapareça (ou deixe de aprovar os projetos), quem souber se comunicar terá um diferencial. Para ficar hypado e menos boomer, você encontrará paralelos disso tudo no moderno universo do UX, em processos de Discovery e co-criação. Conversar é bem pra frentex*.

*Do seu amigo que já questiona a idade ao completar 41 anos.

Fabio Haag


¹ LinkedIn, The Skills Companies are Hiring For Right Now
² Stanford Business, Rod Kramer: What Makes a Successful Pitch?