Imagina só

Há muito tempo atrás, numa terra longe daqui, dizem que aconteceu de verdade: pediram dicas de paternidade para Albert Einstein. “Eu gostaria que minha filha fosse cientista também. Que tipos de livro o senhor recomenda?” Segundo um periódico da Biblioteca do Congresso do Novo México, de 1958, Einstein respondeu: “Contos de fadas, e depois, mais contos de fada.”

Devemos falar sobre a importância da fantasia, seja você designer, ilustrador, administrador ou até mesmo contador; sim, sendo um ser humano, as histórias tem o poder de transformar você, e por consequência, todo o mundo ao seu redor.

O gatilho para eu escrever sobre isso foi assistir na Netflix a adaptação de Sandman, um clássico dos quadrinhos e um dos primeiros a aparecer na lista dos livros mais vendidos do New York Times. Eu sou bem fanboy do seu autor, Neil Gaiman, então não confie em mim, mas saiba que a adaptação para TV foi a série mais assistida no mundo por três semanas consecutivas.

Eu nunca gostei de super heróis. Achava-os fake. Como adolescente menor da turma, eu encontrava refúgio no heavy metal, no Edgar Allan Poe e na Vertigo, linha de histórias para adultos da DC Comics (agora DC Black Label), onde heróis não são bem heróis e a vida não é bem como imaginávamos quando éramos crianças. Ainda assim, lembro do meu fascínio quando li que havia uma biblioteca, no Sonhar, onde ficavam todos os livros já escritos pela humanidade, assim como aqueles que ainda não foram escritos. Estes estão lá também, lado a lado, aguardando que algum sonhador os encontre. Se você acha isso bobo, te convido a olhar ao seu redor. Observe tudo aquilo que não veio da natureza: a cadeira em que você está sentado. O dispositivo em que você está lendo isso. As roupas que está vestindo. A sua mesa. A caneta sobre a sua mesa. A sala onde você se encontra. A casa ou o prédio. Tudo isso foi projetado por alguém. E antes de ser projetado, foi imaginado.

Chesterton dizia que os contos de fada não existem para nos dizer que dragões são reais, mas sim, que eles podem ser vencidos. Eu amo essa ideia. Mas também a de que dragões puderam ser imaginados. Aliando répteis perigosos com nossa limitação de não poder voar, idealizamos numa criatura imaginária todo o poder que gostaríamos de ter. Combinar elementos diferentes para criar algo novo é o mais próximo de uma receita para a criatividade que já foi sonhada.

Na primeira vez que usei o Midjourney, uma das ferramentas que gera imagens por inteligência artificial a partir de apenas uma frase, eu fiquei paralizado. O que criar, se posso criar qualquer coisa? Chamei o meu filho e logo ideias surgiram: Cristiano Ronaldo como um pokemon. Naruto lutando com Power Rangers no espaço. E funciona. Já estão criando um plugin para o Figma e a Fast Company conta que arquitetos estão utilizando a ferramenta no seu processo criativo, dizendo que basta “…falar um prédio para ele surgir”. Outro usuário desta mesma ferramenta ganhou uma competição de arte no Colorado. E deixou muitos artistas indignados.

Quando a habilidade de desenhar ou pintar deixa de ser necessária para criarmos um desenho ou uma pintura, o que importa, de verdade (Einstein já sabia, claro), é a nossa capacidade de sonhar e imaginar.

Fabio Haag

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