Talvez você não deva comprar fontes agora
Há uma pequena padaria na cidade de Imbé, no litoral gaúcho, que vende um pão inacreditavelmente maravilhoso. Sempre foi. Desde a minha infância, comprar pão na praia é um ritual que envolve muita paciência na fila que dobra o quarteirão, sempre. Mas isso nunca foi um problema. As pessoas exibem um sorriso empático, felizes, sentindo o cheiro de pão quentinho a cada troca de fornada. Essa padaria não precisa investir em fontes.
Há uma sorveteria num cantinho de Florianópolis, com o melhor sorvete do mundo, atestado por uma matéria de jornal, orgulhosamente emoldurada na parede. E você pode confirmar com qualquer um da fila, que existe sempre. Essa sorveteria não precisa investir em fontes. Por fim (e agora com um plot twist, porque você já sacou), existe uma concessionária de veículos de alto padrão, cujo nome é Bagunça. Visualize uma revenda de carros de luxo, cujo nome vai contra o senso comum (o que dirão os especialistas em naming?), mas que está firme há 45 anos no mercado. Essa concessionária não precisa investir em naming, nem em fontes.
Temos a ilusão de que o nosso trabalho é a coisa mais importante do universo. Mas, sejamos realistas — a hierarquia das necessidades de marketing numa empresa, e a sofisticação de suas ferramentas, evolui de acordo com a necessidade dela mover o mercado. A padaria de Imbé não precisa nem de uma placa identificando o seu local para que as pessoas compareçam fielmente nas manhãs de veraneio.
Sou sincero com startups quando as digo que não precisam de uma fonte sob medida, ou talvez, nem de uma fonte paga sequer. As necessidades básicas para testar um modelo de negócio geralmente não dependem da escolha tipográfica. Além disso, uma fonte sob medida pode se tornar um investimento obsoleto em pouco tempo, considerando que o primeiro ano de uma startup é marcado por grandes transformações. O Google Fonts facilitou o acesso a fontes de qualidade a custo zero, implementação fácil e imediata.
Funciona. Até não funcionar mais, claro. Quando? Bem, a fonte mais utilizada via Google Fonts foi exibida mais de 295 bilhões de vezes apenas nos últimos 30 dias* — é como se cada habitante do planeta Terra visse essa mesma fonte 37 vezes neste curto período de tempo.
No momento em que uma marca precisa se destacar, uma fonte gratuita não funciona mais. No melhor dos cenários, a sua comunicação será genérica, igual a milhares de outras, sem agregar qualquer valor; no pior, o seu principal concorrente adotará a mesma fonte que você, minando sua comunicação e confundindo o seu público.
A pergunta é: qual o preço disso para você, agora?
Fabio Haag
*Cálculo baseado em fonts.google.com/analytics do dia 27/06/22