A resposta lógica não basta. Eu quero mais.
Vou começar a reclamar. Me conte depois, por favor, se já estou rabugento.
Diante de uma turma de estudantes de design, é comum eu perguntar quem deles ouviu falar do David Carson. O meu herói (ou anti-herói) favorito. Para minha surpresa, não importa a universidade, apenas uma ou duas mãos são levantadas. Uma sempre é a do professor.
Quando a palavra “design” foi elevada à diretoria das empresas, sistematizou-se um processo lógico em busca da eficiência máxima. Descobriu-se que é na intersecção entre design, tecnologia e negócios que estão as soluções mais eficazes, que atendem todos à mesa. O consenso, não à toa, tende a ser pouco imaginativo.
O trabalho do Carson é muito mais intuitivo do que racional. Afinal de contas, era um surfista profissional (mesmo, 9º no ranking mundial) com graduação em Sociologia, armado de um computador no boom do desktop publishing. Seu design quebrava todas as regras, e exatamente por isso, marcou uma geração. A difícil legibilidade não o impediu de ser contratado por empresas “tradicionais” como a American Airlines, Audi, Intel e Microsoft. Hoje, em sua Masterclass, ele ensina a criar através de colagens, confiando no instinto, na intuição, e não na razão.
A razão do algoritmo de SEO diz que este texto está péssimo pois a palavra do título não aparece no primeiro parágrafo. Eu deveria dizer logo o que quero dizer. As pessoas não têm tempo para essa enrolação. Vou continuar.
Daqui há 20 anos, você lembrará do design de algum dos sites que visita hoje? Eu lembro de dois, da minha época de internet discada. Um era da 2Advanced, um estúdio extremamente high-tech cuja tecnologia nos deixava de boca aberta. Era um prazer esperar 2 minutos inteiros para ele carregar; o outro, do perspicaz Luli Radfahrer, era um labirinto, literalmente, para você navegar. Inesquecível.
Numa aula, o especialista em copywriting nos entrega de bandeja a estrutura de texto perfeita, a mais eficaz, ditando até a quantidade de argumentos que precisam estar em bullet points e quando eles devem aparecer. E ele tem pesquisas sólidas (de verdade) para embasar essas recomendações. Sabemos que isso funciona.
Resolver um problema com o menor atrito possível é sim a função do design. Dizem que o Carson faz arte, não design. A arte mexe com a nossa emoção, com subjetividade. O design não tem tempo pra isso, tem uma função clara a cumprir. Isso faz sentido no projeto de uma bula de remédios, mas, precisamos separar o design da arte de forma tão brutal? E se incorporarmos mais subjetividade? Adicionar camadas de significado que podem encantar quem as descobrir? Na imagem abaixo, não foi a funcionalidade que fez o pedestre se contorcer para ler este cartaz:
Quando todos os sites tem o mesmo template. Quando os novos produtos são lançados com a mesma fórmula. Quando os funis de venda são todos iguais, explorando os mesmos gatilhos. Quando os logotipos, estilos tipográficos, de ilustração e de ícones seguem as mesmas tendências, seguras, aprovadas pelo consenso, eu me pergunto se não podemos mais. E desconfio que o design memorável é o que já faz exatamente isso.
Fabio Haag