Está tudo bem ir devagar
Um aspecto interno da gestão do nosso estúdio: somos uma empresa calma.
Eu verifiquei: as pedras não vêm em formato de coração das pedreiras (infelizmente). E a Prefeitura da praia de Imbé certamente não as encomendou assim. São duas, em menos de vinte metros. Cabe ao pedreiro que está montando a calçada, com uma marreta, um cinzel e uma força incrível — que o meu amigo engenheiro de obras garantiu que nem ele, nem eu, temos — martelar para quebrar as pedras de forma irregular até elas mais ou menos se encaixarem. O nível de precisão para lapidar aquele coração foi uma escolha proposital. Alguém, naquele dia, não teve pressa.
Não houve newsletter, nem em Dezembro, nem em Janeiro. Agora, pensei em escrever sobre isso, um aspecto interno da gestão do nosso estúdio. É uma espécie de mea-culpa sofisticada? É, mas também é a verdade. Somos uma empresa calma.
Quando eu abandonei uma carreira estabelecida numa das maiores type foundries do mundo, eu fiz isso em busca de autonomia. Estar livre para fazer as coisas como e quando eu desejasse. E eu não estou sozinho. Uma pesquisa com mais de 5.000 trabalhadores da indústria do conhecimento¹ apontou que a autonomia é mais importante que o próprio salário.
Eu faço questão de que as pessoas que trabalham comigo tenham absolutamente vontade de trabalhar aqui, como e o quanto preferirem. Os projetos são programados prevendo de 4 a 5 horas por dia, com autonomia total de horários. Dá tempo para dormir muito, pra quem gosta; de ir na feirinha de orgânicos, de cair no mar durante o dia, de ir na academia no melhor horário. De fazer um projeto pessoal, de levar e buscar o filho na escola. Respeitamos o tempo e também a atenção das pessoas. Tipografia exige períodos de foco e qualquer interrupção prejudica, por isso, não temos Slack nem outra ferramenta parecida. E, acredite, nunca atrasamos a entrega de nenhum projeto. Em média, os clientes corporativos nos dão nota 9,7 para a satisfação de trabalhar conosco.
Se você achou isso interessante, recomendo o livro ‘O trabalho não precisa ser uma loucura’, com conselhos práticos dos fundadores do Basecamp David Heinemeier Hansson e Jason Fried; depois, ‘Let my people go surfing’, do fundador da Patagonia Yvon Chouinard, por pura inspiração.
Nem sempre a newsletter sai, mas, está tudo bem. Não vamos tão longe tão depressa mas, sem pressa, o caminho fica mais bonito.
Fabio Haag
¹ Forget Flexibility. Your Employees Want Autonomy. Holger Reisinger and Dane Fetterer, Harvard Business Review, 2021